Apresentação


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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Deficiência????????

Deficiente

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. E só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois

"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

"A amizade é um amor que nunca morre."

(Mário Quintana)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Conclusão
O sistema educacional brasileiro, a escola, o professor, o ensino vigente, ainda respiram ares conservadores e tradicionalistas de épocas que nos antecederam. Reestruturar o conjunto de elementos que compõem o quadro educacional deste início de século implica o reconhecimento do que está sendo hoje, o preâmbulo do futuro. Em outras palavras, o que planejamos para amanhã, em educação, deverá considerar a marcha incessante e implacável da evolução das ciências, das artes, da tecnologia e, especialmente, da capacidade de extensão da consciência humana.
Para que a mesma torne-se realmente inclusiva, devemos ser ousados, apostando sem medo de errar. Toda essa ousadia não combina com a escola que, historicamente, tem afastado os "diferentes" de seu contexto. Sabe-se que conhecimentos pedagógicos, os mais sofisticados que sejam, não bastarão para reverter o que acontece na prática escolar. As mudanças das quais necessitamos para estabelecer bases para uma escola para todos dependem, sem dúvida, de uma reorientação mais humana de atitudes e propósitos.
Assusto-me um pouco ao contemplar o desafio da inclusão e ver a escola com mentalidades e práticas tão conservadoras. Como? Como convencer diretores, professores, pais, que o desafio de ensinar deve ser uma busca constante, diária; e que as boas escolas hoje devem ser especializadas no atendimento a todos os alunos? Quando entenderemos que a raça humana prima pela diversidade, assim, se a escola serve para atender pessoas, preparar cidadãos, deve preparar-se para trabalhar com todos, capacitando-se, buscando conhecimento para isso, sendo mais humana. Temos também que estar atentos à mídia e ao mundo globalizado onde a competitividade aumenta e aniquila a capacidade de ação dos menos privilegiados quer econômica, politica ou socialmente. Excluindo-os, valorizando os que estão nos "padrões" promove a desigualdade. Parece devaneio: a escola com um desafio inclusivo, contra esse gigante que é o mundo globalizado. Concordo com a citação "Incluir é humanizar caminhos"(Werneck). O mundo globalizado e toda a sua tecnologia não nos farão seres mais plenos ou felizes. O portador de necessidades educativas especiais é uma pessoa e por ser pessoa, precisa gozar de todos os direitos que têm os demais cidadãos. O professor é peça chave no processo de inclusão escolar, pois quando está totalmente embuído desse espírito, os resultados são mais positivos. No início possuía um sentimento de pena com relação aos alunos portadores, hoje sei que eles também têm capacidades que devem ser desenvolvidas.
Concluo dizendo que devemos combater o preconceito entre as crianças, investindo na formação de um adulto mais consciente. O preconceito e desrespeito aos direitos, não vêm apenas da falta de informação, mas, principalmente da falta de formação. E essa falta de formação está baseada em atos e atitudes dos adultos em casa, na escola, na mídia, na convivência social. Um exemplo disto são as pessoas tidas como "diferentes" sendo expostas na TV como forma de aumentar a audiência. Em casa rimos, desligamos a TV e vamos dormir. E na escola quando os mais "adequados”, sentam-se ao lado da professora, são mais solicitados e até mesmo mais respeitados, ensina-se à toda classe como discriminar e que existem corpos e pessoas inadequados.
Desta forma para uma escola inclusiva precisamos de informação e formação para minimizar o preconceito estando atento para que ele não se instale.
Não faça de conta que a deficiência não existe, aceite-a, ela existe e você precisa levá-la na sua devida consideração.
há uma grande necessidade de nos preparar para elevar a qualidade da educação inclusiva brasileira, pois, por mais limitada que seja em sua funcionalidade acadêmica social, pessoal ou orgânica o indivíduo tem uma contribuição significativa a dar à sociedade.
Vou deixar a letra de uma música maravilhosa que sempre trabalhamos em nossa escola com as crianças, por favor procurem escutar, ela retrata bem como devemos tratar nosso semelhante.
AOS OLHOS DO PAI - (Alline Barros)
Aos olhos do pai, você é uma obra prima que Ele planejou.
Com suas próprias mãos pintou, a cor da sua pele, os seus cabelos desenhou;
Cada detalhe um toque de amor!
Você é linda demais, perfeita aos olhos do Pai, alguém igual a você não vi jamais.
Princesa linda demais, perfeita aos olhos do Pai, alguém igual a você não vi jamais.
Nunca deixe alguém dizer, que não é querida, antes de você nascer Deus sonhou com você...

domingo, 28 de março de 2010

“Todas as formas de racismo ou de exclusão constituem, em última análise,
maneiras de negar o corpo do outro".
Humberto Eco.

Diferenças? Deficiências ? Igualdade ? Exclusão ? Cidadania ? Direitos? Escola inclusiva ? Sociedade excludente? Tantas são as questões que nos saltam à mente , quando começamos a falar em inclusão. À medida que aumenta nossa conscientização no que diz respeito à aceitação das diferenças individuais como um atributo dos indivíduos e não como obstáculo, amplia-se também o número de defensores e praticantes da filosofia de uma sociedade inclusiva.
Escola inclusiva. Combatida? Desejada? Utopia ? Devaneio ? A luta está travada e até aqui, foi longo o caminho. A idéia fundamental é a de adaptar o sistema escolar às necessidades dos alunos. A inclusão propõe um único sistema educacional de qualidade para todos os alunos, com ou sem deficiência e com ou sem outros tipos de condição atípica. A inclusão baseia-se em princípios fincados na valorização da diversidade humana, pela importância dada ao enriquecimento de todas as pessoas. Afirmando o direito de pertencer e não ficar de fora e o igual valor das minorias em comparação com a maioria. Trata-se não só de educação inclusiva, mas, de inclusão social.
Ao tratarmos a questão da inclusão social das pessoas com necessidades especiais com referência aos direitos e à cidadania, nos deparamos com a discussão e um dilema sobre os direitos à diferença e à igualdade.

"Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza"
Boaventura de Sousa Santos.
Os riscos sociais de se colocar ênfase sobre a diferença ou sobre a igualdade são bastante sérios. Estas ênfases não estão isentas de sérias implicações sociais. Elas fazem com que saíamos, inadvertidamente, do campo da inclusão e passemos a reforçar, a despeito de nossas intenções, práticas e discursos excludentes.
A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) nos encaminha à discussão quando coloca como princípio a inclusão, reconhecendo a necessidade de se caminhar rumo à uma escola que inclua todos os alunos, celebrando a diferença, na luta pela igualdade. Toda pessoa tem o direito às suas singularidades que a tornam a pessoa que é. Da mesma forma, o direito à igualdade deve-lhe ser garantido, não sendo condenada a " deixar de estar" ou "deixar de pertencer" a qualquer processo, ou grupo, por procedimentos de segregação e/ou exclusão. No latim se emprega como sinônimas as expressões "morrer" e "deixar de estar entre os homens" (inter homines esse desinere). Desta forma entendo que excluir é condenar à morte e incluir é processo essencial à vida humana e à vida em sociedade.
Um dos segmentos da população que, reiteradamente, tem sido alvo de exclusão, é o composto pelos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais. Com a nova demanda por uma Educação Inclusiva, a escola tem diante de si um grande desafio, pois, historicamente, esteve a serviço das maiorias, preocupada com a homogeneização do processo e pessoas, reproduzindo e reforçando a filosofia de que o mundo foi feito para os ditos "mais aptos". O desafio que demanda essa escola inclusiva expressa a necessidade de mudanças efetivas na filosofia e estrutura do sistema de ensino brasileiro, visando garantir a todos sua igualdade de direitos. Não podemos negar que o foco por uma sociedade inclusiva, não pode ser perdido de vista. Não é só a escola que deve preocupar-se e transformar-se para incluir a todos com qualidade. A sociedade inclusiva deve ser buscada, pois, nela não se quer apenas "abrir espaço para o deficiente " ou "aceitá-lo", num gesto de solidariedade. Na sociedade inclusiva somos apenas – e isto é suficiente- cidadãos responsáveis pela qualidade de vida do nosso semelhante, por mais diferente que ele seja ou nos pareça ser.
Buscar um mundo e uma escola inclusivos significa enfrentar o desafio de impregnar a sociedade com bons motivos que garantam a ampla convivência de pessoas deficientes e não deficientes. Vivemos em um mundo onde todos têm pressa, muita pressa. A vida nas grandes cidades pode ser comparada a uma grande avenida. A maioria da população anda bem nessa avenida. Ninguém para. Só consegue entrar nesta avenida quem tem muita sorte e é hábil na direção. E os que precisam ou desejam andar mais devagar? Devem ser excluídos do direito de andar na avenida? Quem sabe colocar sinais, regras, pistas para quem precisar andar mais devagar? (Werneck) Eles não deixarão de andar e estar. Terão suas necessidades atendidas. Aí se encontra um dos desafios da escola, considerar a diversidade, transformar-se para atender a todos.
A seguir relacionarei alguns desafios que a meu ver, a escola de hoje tem diante de si rumo à uma escola que garanta os direitos à diferença e à igualdade de todos os alunos, acolhendo-os como pessoas e cidadãos. Não bastam modificações nos prédios com instalações de rampas e espaços destinados aos portadores de necessidades educativas especiais, como banheiros ou mesas apropriadas. Estas modificações são essenciais e devemos lutar por elas, mais entendo que a escola precisa, além disso, retirar seus entraves filosófico-metodológicos que podem ser até mais nocivos que a falta de corrimãos em escadas ou outra qualquer medida que vise facilitar a acessibilidade dos portadores. De que adianta uma escola adaptada se ela não acolhe a todos, pelo contrário, expulsa, exclui aquele que mais precisa dela.


DEZ DESAFIOS A CONSIDERAR

1 - Acreditar na inclusão colocando em prática princípios da pedagogia do sucesso
... Respeitar o direito que todas as pessoas têm à educação e que os portadores de necessidades educativas especiais devem ser incluídos em escolas comuns da comunidade, sem dificultá-las o acesso à escola com manobras, negando-lhes seus direitos.

... Acreditar que todos os educandos, portadores ou não, conseguem desenvolver habilidades, pois possuem capacidade de aprender.

... Respeitar o potencial de cada aluno e aceitar todos os estudantes igualmente, respeitando suas diferenças individuais

2 - Investir na Formação Inicial e continuada dos professores
...Preparar apropriadamente todos os educadores constitui-se um fator-chave na promoção de progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas.

...Treinamento pré-profissional deveria fornecer a todos os estudantes de pedagogia de ensino primário ou secundário, orientação positiva frente à deficiência, desta forma desenvolvendo um entendimento daquilo que pode ser alcançado nas escolas através dos serviços de apoio disponíveis na localidade.

... Fornecer informações sobre recursos externos à escola e intermediar a conexão com pessoas e entidades que possam ajudar o trabalho do professor visando o desenvolvimento do aluno.

3 - Ampliar a visão e mudar suas estratégias e ensino e aprendizagem
... Dar oportunidade aos alunos de aprenderem uns sobre os outros, reduzindo o estigma experienciado quando os alunos são colocados em classes separadas.

... Utilizar as experiências de vida do próprio aluno como fator motivador da aprendizagem do mesmo. Com isso adotar uma abordagem centrada no aluno.

... Estar mais interessada naquilo que o aluno deseja aprender do que em rótulos, laudos ou estereótipos sobre ele.

... Saber que, nos programas, os seguintes métodos são eficientes: experiências com linguagem, histórias e outros textos sobre temas que o aprendiz conhece; aprendizagem assistida por computador; material disponível no cotidiano do público; leitura assistida ou pareada usando livros convencionais e livros adaptados; debate após atividade extraclasse; coleção de histórias de vida dos próprios alunos; uso da lousa para escrever um texto em grupo; colagem com recortes de revistas, uso de material concreto, entre outros.

... Estimular outras pessoas importantes na vida do aluno a se envolverem com o processo educativo.

4 - Capacitarem-se para utilizar novas formas de avaliação escolar
... Ser flexível nos métodos de avaliação, pois sabemos que os testes, provas e exames provocam medo e ansiedade nos alunos além do mais saber que conhecimento, aprendizagem não se quantifica.

... Adotar uma abordagem de avaliação, cujos resultados propiciem reflexão sobre todo o processo e possa servir de ajuda na solução de problemas e dificuldades encontradas no processo por professores e alunos.

... Saber que a aprendizagem deve estar baseada nas metas do aluno.

5 - Estar atenta à acessibilidade, com qualidade.
... Considerar que os alunos devem freqüentar classes comuns com colegas não deficientes da mesma faixa etária. Esta experiência assegura aos alunos deficientes e não-deficientes crescimento, e exercício da cidadania.

... Saber que precisa prover suportes (acessibilidade arquitetônica, atendestes pessoais, profissionais de apoio, horários flexíveis etc.) a fim de incluir todos os alunos.

... Estar preparada para indicar recursos adequados a cada necessidade dos alunos, tais como: livros, entidades, aparelhos, etc.

6 - O papel do professor é ensinar a todos os alunos
... Saber que o professor tem a responsabilidade de educar tanto as crianças sem deficiência como aquelas com deficiência. Tem também a responsabilidade de assegurar que o aluno deficiente seja um membro integrante e valorizado da sala de aula, que tem potencialidades e capacidade para aprender. Enquanto profissional deve buscar formação para estar preparado para desempenhar seu papel da melhor forma possível.

7 - Currículos adequadamente adaptado
... Entender que Educação Inclusiva significa que os alunos com deficiência estão sendo ensinados no mesmo contexto curricular e instrucional com os demais colegas de sala de aula. Materiais curriculares comuns podem precisar ser adaptados, mas somente até o nível necessário para satisfazer as necessidades de aprendizagem de qualquer aluno.

8 - Métodos instrucionais diversificados
...aplicar às classes de hoje, marcadas pela diversidade humana, os seguintes métodos: instrução multinível, a comunicação total, a aprendizagem por cooperação, aprendizado baseado em atividades, música, trabalho com o corpo, tentando atender às diferenças, preferências e ritmos individuais

9 - Colaborações entre professores e outros profissionais
...Estimular o diálogo, apoio e troca entre professores e o acesso dos terapeutas e consultores à sala de aula, em vez de retirar alunos de lá, beneficiando a prática educativa não só com relação aos portadores, mas a todos em geral.

10 - Inclusões do aluno na vida social da escola
... Saber que os alunos é parte importante do mundo, devendo ser incluidos nos relacionamentos e interações sociais. Assim como os demais alunos, aqueles com deficiência também precisam participar da vida social da escola como, por exemplo, conduzindo visitantes pela escola, ajudando da mesma forma que os alunos não-deficientes. Quanto mais presentes estiverem esses componentes, maiores serão as chances de que a escola incluirá crianças e jovens portadores de deficiência.


Bibliografia

ASSUNPÇÃO Jr, F.B. A família e o Deficiente Mental, S.Paulo, Ed. Paulinas, 1991.

GHERPELLI, M.H. Diferente, mas não desigual, São Paulo, Gente, 1995.

MANTOAN, M. T. É. A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema, Editora Senac, São Paulo, 1997.

. Compreendendo a deficiência. São Paulo, Editora Scipione, 1988.

MAZZOTTA, Marcos J. da S. Educação Escolar: Comum ou Especial? São Paulo, Pioneira, 1986, p.117.

WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

. Muito Prazer, eu existo. Rio de Janeiro, WVA, 1992.

. Um amigo diferente. Rio de Janeiro, WVA, 1992.
O QUE É INCLUSÃO?
Inclusão é um termo que tem sido usado como sinônimo para a integração de alunos com alguma deficiência no ensino regular,porém sabemos que esta inclusão tão almejada não se refere somente as crianças com deficiência e sim a todos que sofrem qualquer tipo de exclusão educacional, social, religiosa, dentro e fora das escolas, quando não tem suas vagas garantidas, sua permanência garantida como é o caso de muitos brasileiros.
Inclusão é uma ação que combate a exclusão, geralmente ligada a pessoas de classe social baixa, pouco nível social, portadores de deficiência física ou mental, idosas ou minorias raciais entre outras.
Inclusão é oferecer aos mais necessitados oportunidades de participarem da sociedade da mesma forma que qualquer outro cidadão, com seus direitos preservados.
Inclusão é o inverso de exclusão, e neste ponto não devemos excluir crianças e jovens que vivem na rua, meninas que são levadas a se prostituírem, crianças e jovens com HIV, câncer, em conflito com a lei, que sejam frutos da desigualdade social, crianças negras indígenas, filhos de presidiários etc.
Inclusão é respeito, identificação, é remoção de barreiras, valorização da diversidade cultural, é amar, é bem mais do que estar perto, ao lado, é reconhecer, proteger, assumir, dedicar, aceitar e viver junto com toda desigualdade e necessidade que possam aparecer.

quinta-feira, 25 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: 03/12

Vocês sabiam da comemoração desta data? Eu não, e como ela foi criada e escolhida para ser comemorado o dia internacional das pessoas com deficiências?

A 37ª Sessão Plenária Especial sobre Deficiência da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, realizada em 14 de outubro de 1992, em comemoração ao término da Década, adotou o dia 3 de dezembro como Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, por meio da resolução A/RES/47/3. Com este ato, a Assembléia considera que ainda falta muito para se resolver os problemas dos deficientes, que não pode ser deixado de lado pelas Nações Unidas.

A data escolhida coincide com o dia da adoção do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência pela Assembléia Geral da ONU, em 1982. As entidades mundiais da área esperam que com a criação do Dia Internacional todos os países passem a comemorar a data, gerando conscientização, compromisso e ações que transformem a situação dos deficientes no mundo. O sucesso da iniciativa vai depender diretamente do envolvimento da comunidade de portadores de deficiência que devem estabelecer estratégias para manter o tema em evidência.

EDUCAÇÂO INCLUSIVA

Para quem gosta deste tema ele será o nosso finalizador do blog, ou seja falaremos de forma mais pormenorizada sobre a temática que estudamos no final do curso e que por sinal é a qual mais gostamos. Sabemos que o curso todo foi muito bom, excelente, mas escolhemos este assunto para finalizar por ser polêmico, bem vasto, muito importante para os educadores e suas angústias, ou seja nossas angústias de trabalharmos com crianças portadores de necessidades especiais muitas vezes sem formação, preparo e apoio. parabéns a todos que chegaram conosco nesta última etapa. Muito obrigada a todos os tutores pelo carinho, apoio, compreensão e cuidado.


MEIO AMBIENTE E NOSSA ÁGUA

22 de março

Este é o dia internacional da água, essencial para a vida na Terra

Antonio Carlos Olivieri*

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

O dia 22 de março foi dedicado pela Organização das Nações Unidas à água, na Rio 92 - conferência sobre o meio ambiente que o Brasil sediou.
A água representa 70% da superfície do planeta. Só 2,5% desse total é de água doce - aquela adequada para o consumo do homem. É bom lembrar que a água doce não serve só para beber. Ela também é usada na higiene, na limpeza, na indústria e, principalmente, na agricultura. No século 20, a população da Terratriplicou e o consumo de água doce aumentou seis vezes.

Resíduos químicos e dejetos

Da água doce disponível, boa parte é poluída pelos resíduos químicos das indústrias nos países desenvolvidos e, nos países pobres, a falta de esgotos gera a contaminação pelos dejetos humanos.
Um estudo das Nações Unidas, realizado em 2000, chegou à conclusão de que, em 2020, 45% da população do planeta podem ficar sem água doce. A questão afeta mais diretamente os habitantes da Ásia e da África.
O Brasil tem 16% da água doce do planeta. Só existe um porém: a distribuição desses recursos hídricos no território nacional. Enquanto 68% da água do país está na região Norte, a grande maioria da população brasileira se concentra em outras regiões, como o Sudeste, que conta somente com 6% de nossas reservas de água.

Economia e reaproveitamento

A água doce pode ser reciclada: é possível tratar a água dos esgotos ou aquela utilizada pela indústria. No Arizona, por exemplo, um Estado norte-americano formado por terras áridas, 80% das águas dos esgotos já são reaproveitadas. Extrair o sal da água do mar e torná-la adequada para a agricultura também é possível.
Uma pesquisa da ANA (Agência Nacional da Água) revela que cada brasileiro usa, todo dia, pelo menos 200 litros de água. Segundo a Organização das Nações Unidas, 110 litros/dia são suficientes para atender as necessidades de consumo e higiene de uma pessoa.
Reduzir o desperdício e ajudar o mundo a driblar a escassez também dependem de pequenos gestos, como fechar a torneira enquanto usamos a escova de dentes ou nos ensaboamos no banho. Você sabia que 15 minutos com o chuveiro ligado significa jogar fora 242 litros de água pura?

Para cada 1000 litros de água consumida há 10.000 de água poluída

· Para cada 1.000 litros de água utilizada pelo homem, há 10.000 litros de água poluída, segundo a ONU. Peixes mortos flutuam no rio Hefei, em Anhui, na China, no dia 19 de março, três dias antes do Dia Mundial da ÁguaDia 22 de março é a data escolhida pela Organização das Nações Unidas para celebrar o Dia Mundial da Água. Em relação a outros países, o Brasil pode ser considerado privilegiado em relação a esse recurso. O país conta com cerca de 12% da concentração mundial de água doce. No entanto, a escassez de água é uma ameaça para o mundo todo. Para se ter uma ideia, a partir de 1950 o consumo triplicou no planeta. E o consumo médio de água, por habitante, foi ampliado em cerca de 50%. Para piorar o cenário, para cada 1.000 litros de água utilizada pelo homem, há 10.000 litros de água poluída, segundo a ONU. É um motivo e tanto para se preocupar, uma vez que, já 2.000 anos, a população mundial correspondia a 3% da atual, enquanto o volume de água permanece o mesmo. Para o futuro, estima-se que nos próximos 20 anos o homem vai usar 40% a mais de água do que usa agora.

Descubra outras curiosidades sobre a água:

- Graças à água é que surgiu a primeira forma de vida do planeta há milhões de anos; dela o processo evolutivo caminhou até formar nossa espécie e continua a manter toda a diversidade que conhecemos.

- O homem pode passar até 28 dias sem comer, mas apenas 3 dias sem água.

- Três quartos da superfície do nosso mundo são cobertos por água, sendo 97% salgada, e apenas 3% doce. Contudo, do percentual total da água doce existente, a maior parte encontra-se sob a forma de gelo nas calotas polares e geleiras, parte é gasosa e parte é líquida - representada pelas fontes subterrâneas e superficiais. Já os rios e lagos, que são nossas principais formas de abastecimento, correspondem a apenas 0,01% desse percentual, aproximadamente.

- No Brasil, mais de 90% dos esgotos domésticos e cerca de 70% dos efluentes industriais não tratados são lançados nos corpos d'água.

- De toda a água que se retira de mananciais para abastecer as capitais brasileiras, quase a metade (45%) se perde antes de chegar às casas e atender à população. A principal causa são os vazamentos na rede.

- Mais de 1 bilhão de pessoas sofrem com a falta de água para consumo.

- Mais da metade da população mundial - cerca de três bilhões de pessoas - sofrerá escassez de água em 2025, segundo a Unesco.

- O gotejamento de uma torneira chega a um desperdício de 46 litros por dia. Isto é, 1.380 litros por mês. Ou seja, mais de um metro cúbico por mês - O que significa uma conta mais alta. Um filete de mais ou menos 2 milímetros totaliza 4.140 litros num mês. E um filete de 4 milímetros, 13.260 litros por mês de desperdício.

- Um buraco de 2 milímetros no encanamento pode causar um desperdício de 3.200 litros por dia, isto é, mais de três caixas d'água.

- Os países com maior quantidade de água per capita são: Guiana Francesa, Islândia, Guiana, Suriname, Congo, Papua Nova Guiné, Gabão, Ilhas Salomão, Canadá e Nova Zelândia

- Os países com menos água per capita são: Kuait, Emirados Árabes Unidos, Bahamas, Qatar, Maldivas, Líbia, Arábia Saudita, Malta, Cingapura e Jordânia

Fonte: Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Snis (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) e ONU (Organização das Nações Unidas

20 DE NOVEMBRO - preconceito&respeito

Há mais de 30 anos, o poeta gaúcho Oliveira Silveira sugeriu que se comemorasse em 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra, pois essa data era mais significativa para a comunidade negra brasileira do que o 13 de maio. "Treze de maio traição, liberdade sem asas e fome sem pão", assim definia Silveira o Dia da Abolição da escravatura em um de seus poemas, referindo-se à lei que libertou os escravos, mas sem lhes dar condições de trabalhar e viver com dignidade.

Em 2003, o Congresso Brasileiro aprovou uma lei federal criando esse dia. A mesma lei tornou obrigatório nas escolas o estudo sobre história e cultura afro-brasileira. A idéia é ensinar aos alunos de todo o país a história dos povos africanos, a luta dos negros no Brasil e a influência do negro na formação da sociedade nacional.
O dia 20 de novembro é aniversário da morte de Zumbi, grande líder guerreiro doquilombo dos Palmares, assassinado em 1695, há mais de 300 anos. Ele é considerado símbolo da resistência contra a escravidão, por isso, as entidades e organizações não governamentais dos movimentos negros no Brasil definiram esse dia para manter viva a memória dessa figura histórica e sua importância na luta pela libertação dos escravos.
Você sabe o que é um quilombo? A palavra é de origem africana e quer dizer acampamento guerreiro na floresta. Quando os escravos conseguiam fugir, iam para os quilombos escondidos no meio das matas. Palmares, na Serra da Barriga (Alagoas), foi o maior deles todos e, na verdade, era formado por muitos quilombos juntos, com mais de 30 mil habitantes. Para você fazer uma idéia do que isso significa, a cidade de São Paulo, 250 anos mais tarde, teria apenas 25 mil habitantes.
Zumbi nasceu em Palmares, filho e neto de guerreiros de Angola, na África, escravizados e vendidos no Brasil. Com poucos dias de vida, foi seqüestrado e entregue a um padre que o batizou com o nome de Francisco. Aos 15 anos, Francisco que havia aprendido português e latim, fugiu e voltou para o quilombo, onde mudou seu nome para Zumbi que significa "Senhor da Guerra", "Fantasma Imortal" ou "Morto Vivo", no idioma africano banto. Daí em diante chefiou os negros nos combates contra bandeirantes e capangas dos fazendeiros que queriam escravizá-los novamente. Foi traído e morto numa emboscada aos 40 anos, depois de passar a vida lutando pela liberdade.
A história sempre é escrita pelos vencedores. Assim, no caso de Zumbi e da resistência negra, todos os registros foram apagados pelas pessoas que conservaram o poder ao longo do Império e na República: a elite governante, a quem não convinha a figura de um herói negro nos livros escolares. Nos últimos 30 anos essa atitude vem mudando e procura-se resgatar fatos sobre a influência negra na formação do Brasil.
Hoje em dia, os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por preconceitos e diferenças sociais. É um dia para todos pensarem na situação do negro, antes escravo e hoje ainda deixado de fora das oportunidades de trabalho e estudo no Brasil.

*Jurema Aprile é jornalista.

Por falar em Educação Indígena...

19 de abril

Dia do índio nasceu em 1940 no Congresso Interamericano

Da Redação
Em São Paulo

19 de abril de 1940 foi a data em que os delegados indígenas se reuniram pela 1ª vez em assembléia no Congresso Interamericano. Todos os países da América foram convidados a participar dessa celebração.
Reunida em Patzcuaro (México), a assembléia aprovou, entre outras propostas, o estabelecimento do Dia do Índio pelos governos dos países americanos. Este dia seria dedicado ao estudo do problema do índio atual pelas diversas instituições de ensino.
Segundo fontes oficiais, o Brasil tem hoje cerca de 560 terras indígenas e aproximadamente 460 mil índios. São 206 povos (ou etnias), concentrados, em sua maioria - 70% do total -, numa parcela da Amazônia Legal que engloba seis Estados: Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Pará. Além disso, a Funai (Fundação Nacional do Índio) também registra a existência de 40 povos isolados na Amazônia Ocidental.
Em densidade populacional, os seis maiores povos indígenas do Brasil são Guarani (30 mil), Ticuna (23 mil), Kaingang (20 mil), Macuxi (15 mil), Guajajara (10 mil), Yanomami (9.975).

INDICE
Um estudo inédito do economista Marcelo Paixão, coordenador do Observatório Afro-Brasileiro, mostra que a população indígena brasileira apresenta um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) próximo ao da Bolívia.
O IDH é um indicador da ONU que aponta o padrão de desenvolvimento humano em cada país. Ele é calculado a partir de indicadores de escolaridade, renda e expectativa de vida. O valor encontrado varia de zero, o pior desenvolvimento humano possível, a um, o melhor. Um índice acima de 0,800 é considerado de alto desenvolvimento humano.
Para o Brasil, o índice fica em 0,790, o que coloca o país na 62ª posição do ranking de 177 países divulgado em 2004. Os índios têm IDH de 0,683, próximo da Bolívia (114º no ranking).
Outros dados da tese mostram que não é apenas no desenvolvimento humano que os indígenas têm os piores índices. A taxa de mortalidade por desnutrição na população indígena adulta é de 11,2 por 100 mil habitantes, contra a média de 4,3 da população brasileira. A proporção de indigentes também é maior: 45% da população, contra 23% da média do país.


Origem
Os povos indígenas que hoje vivem na América do Sul são originários de povos caçadores vindos da América do Norte através do istmo do Panamá. Há milhares de anos -não há consenso entre os arqueólogos sobre a antigüidade da ocupação humana na América do Sul-, os povos indígenas ocuparam virtualmente toda a extensão do continente. De lá para cá essas populações desenvolveram diferentes modos de uso e manejo dos recursos naturais e formas de organização social distintas entre si.
Tradicionalmente, as sociedades indígenas não se fixavam a um mesmo território por muito tempo. As aldeias indígenas eram organizadas, levando-se em consideração a quantidade, a qualidade e a distribuição espacial dos recursos indispensáveis ao desenvolvimento de suas comunidades.
No Brasil, desde o século 16, existem instrumentos legais que definem e propõem uma política para os índios, fundamentados na discussão da legitimidade do direito dos índios ao domínio e soberania de suas terras. Esse direito - ou não - dos índios ao território que habitam está registrado em diferentes legislações portuguesas, envolvendo Cartas Régias, Alvarás, Regimentos etc.


Política
Até 1988, a política indigenista brasileira estava centrada nas atividades voltadas à incorporação dos índios à comunhão nacional, princípio indigenista presente nas Constituições de 1934, 1946, 1967 e 1969. A Constituição de 1988 suprimiu essa diretriz, reconhecendo aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam.
Os índios também ampliaram sua cidadania, já são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses. Assim, o principal objetivo da política indigenista hoje é a preservação das culturas indígenas, através da garantia de suas terras, e o desenvolvimento de atividades educacionais e sanitárias.
Entretanto, a insuficiência de recursos oficiais, a integração cada vez mais comum do índio às sociedades urbanas e os conflitos raciais e sociais dos povos brasileiros têm colocado em risco a concretização das propostas políticas e direitos indígenas garantidos por Constituição.

Fonte: Museu do Índio / Funai e Folha de S.Paulo

quarta-feira, 17 de março de 2010

PRESERVAR É REUTILIZAR!

Bom, como estudamos sobre o meio ambiente resolvemos postar uma atividade muito legal que encontramos em ouro blog...espero que gostem, vale a pena ver e trabalhar em ala de aula.

SUCATAS

Desafio à criatividade

Costuma-se chamar de sucata ao material descartável, aquele material que aparentemente não tem mais utilidade, mas que, com um pouco de criatividade pode ser reaproveitado.

Sucata quem ainda não escutou está palavra tão falada atualmente?

Às vezes dependendo da escola que trabalhamos, e do seu poder aquisitivo temos que

encontrar caminhos para que nossas aulas não se tornem vamos dizer "chatas" sem "graça" , mesmice, enfim...

As sucatas estão a nossa disposição, um material de fácil acesso com um leque de oportunidades e maneiras de utilizá-lo.

A criação de um brinquedo de sucata é também uma proposta de mudança de desafio à nossa capacidade é um convite para uma pequena aventura.

O processo criativo nos introduz ao prazer de transformar, de tornar útil algo que até então era considerado feio e sem utilidade.

Esta magia pedagógica pode ajudar o professor a construir os recursos que enriquecerão e facilitarão o seu trabalho, mas o importante é que ele também será transformado pelo prazer de criar.

Quando partilhamos com uma criança a descoberta de um objeto cuja utilização pode ser rei ventada, estamos também mostrando o valor e o encanto das pequenas coisas.

Está atitude pode ser bem mais do que uma alternativa de material para brincar : é também é também uma alternativa para uma escala de valores.

Utilizamos sucata não só por ser gratuita, mas, porque nos proporciona oportunidade de para criar e nos libertamos do vicío do consumismo.

Sucata um desafio irresistível!!!

Tampas: As tampas de plástico colorido são um excelente material para as crianças brincarem e investigarem mil utilizações.

As tampinhas de pasta de dente são utilizadas como marcadores nos jogos de bingo (em vez de grão de feijão).

As tampas maiores (encontradas em frascos de desodorante, xampus, spray), pelo seu colorido rico, são utilizadas como material básico para mil jogos diferentes.

A seguir algumas sugestões para estimular o desenvolvimento do pensamento através das brincadeiras com tampas.

Brinquedo de sucata

Sugestões para estimular o desenvolvimeto do pensamento através de brincadeiras com tapinhas.

Espero que gostem!

Quantas tampas você consegue empilhar? Quantas consegue encaixar?

Brinquedo inesgotável !

Uma caixa cheia de tampas de plástico é um brinquedo inesgotável de possibilidades. As tampas podem ser utilizadas para várias atividades recreativas.

Estes são alguns exemplos:Tampa ao cesto - Colocar um cesto a 2 m de distância. Distribuir as tampas entre as criança Ganhará aquele que conseguir encestar maior número de tampas. As crianças na sua vez deverão tentar lançá-las dentro do cestão.

  • Dominó por cores - Joga-se da maneira tradicional, sendo que a cada jogada o jogador usará duas tampas: A 1ª que combine com a tampa da mesa (mesma cor) e a segunda tem que ser diferente, para dar prosseguimento ao jogo.
  • Dominó de semelhanças - Também se joga de forma tradicional, sendo que uma tampa e outra deve haver pelo menos um fator em comum ( cor, forma, tamanho).
  • Jogo da memória - Colocar várias tampas diferentes, viradas para baixo, sobre a mesa. Embaixo de uma delas colocar um pequeno objeto. Modificar a posição inicial das tampas e perguntar à criança onde está o objeto.
  • Escravos de Jó - Jogo musicado que faz parte do folclore nacional.
  • Apalpe e acerte - Colocar vários pares de tampas dentro de um saco, pedir à criança que, com as duas mãos dentro do saco, encontre, através do tato, duas tampas iguais.
  • Qual está faltando? - Mostrar um conjunto de tampas para as crianças e, sem que ela veja, retirar uma delas e perguntar qual está faltando.
  • A maior ganha - Distribuem-se as tampas entre os jogadores. Iniciado o jogo com uma tampa, o primeiro a jogar ganhará a tampa se apresentar uma outra maior do que aquela, e assim por diante . Vencerá quem ficar com maior número de tampas.
  • Jogo da torre - A professora coloca a tampa maior no centro da mesa. As crianças deverão ir colocando uma tampa sobre a outra para formar uma torre. Perderá aquele que não puder contribuir na construção da torre ou aquele que derrubá-la.
  • Come - come - Com tampas de todos os tamanhos (principalmente pequenas), espalhadas pelas mesas, os jogadores deverão cobrir com uma tampa grande o maior número possível de tampas menores , sem levantar a tampa da mesa , isto é, levantando apenas um de seus lados, movimentando-a pela mesa . Vence o jogo quem conseguir" comer" maior número de tampas.
APROVEITEM E DIVIRTAM-SE...ABRAÇOS

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A TRAGETÒRIA DOS ESCRAVOS NO BRASIL, SEUS QUILOMBOS, seus sonhos e lutas que ainda perduram em nossos dias tão frios e preconceituosos.

Trazido como imigrante forçado e, mais do que isto, como escravo, o negro africano e os seus descendentes contribuíram com todos aqueles ingredientes que dinamizaram o trabalho durante quase quatro séculos de escravidão. Em todas as áreas do Brasil eles construíram a nossa economia em desenvolvimento, mas, por outro lado, foram sumariamente excluídos da divisão dessa riqueza.
Desembarque de escravos negros vindos da África. Rugendas, BMSP


Esta história começa com a chegada das primeiras levas de escravos vindos da África. Isto se dá por volta de 1549, quando o primeiro contingente é desembarcado em São Vicente. D. João III concedeu autorização a fim de que cada colono importasse até 120 africanos para as suas propriedades. Muitos desses colonos, no entanto, protestaram contra o limite estabelecido pelo rei, pois desejavam importar um número bem superior. Por outro lado, alguns historiadores acham que bem antes dessa data já haviam entrado negros no Brasil. Afirmam mesmo que na nau Bretoa, para aqui enviada em 1511 por Fernando de Noronha, já se encontravam negros no seu bordo.

A consolidação da economia colonial intensificou o tráfico de africanos para o Brasil, especialmente para o Nordeste, onde um tipo de agroindústria se concentrou e floresceu com o cultivo da cana-de-açúcar.

Em 1586, na Colônia, as estimativas davam uma população de cerca de 57.000 habitantes – e deste total 25.000 eram brancos, 18.000 índios e 14.000 negros. Em 1798, segundo o cálculo de Santa Apolônia, para uma população de 3.250.000 habitantes, havia um total de 1.582.000 escravos, dos quais 221.000 pardos e 1.361.000 negros, sem contarmos os negros libertos, que ascendiam a 406.000. Prosseguindo a chegada de africanos, aumentava o seu peso demográfico no total da população brasileira. Para o biênio 1817-1818, as estimativas de Veloso de Oliveira davam, para um total de 3.817.000 habitantes, a cifra de 1.930.000 escravos, dos quais 202.000 pardos e 1.361.000 negros. Havia, também, uma população de negros e pardos livres que chegava a 585.000. No século XVIII, o qual, segundo o historiador Pandiá Calógeras, foi o de maior importação de africanos, a média teria chegado a 55.000 entrados anualmente. Essa massa populacional negro-africana, embora se concentrando especialmente na região nordestina, se espraiará, em maior ou menor quantidade, por todo o território nacional.

Embora não tenhamos possibilidades de estabelecer o número exato de africanos importados pelo tráfico, podemos fazer várias estimativas. Elas variam muito e há sempre uma tendência de se diminuir esse número, em parte por falta de estatísticas e também porque muitos historiadores procuram branquear a nossa população. Essas discussões sobre o número de africanos entrados no Brasil se reacenderam quando se procurou quantificar essa população escrava, e posteriormente a afro-brasileira, para com isto estabelecer-se o padrão do que se poderia chamar de homem brasileiro. A apuração da nossa realidade étnica excluiria o branco como representativo do nosso homem. Daí se procurar subestimar o negro no passado e a sua significação atual.


A Viagem da costa da África à América do Sul


O reverendo Henry Koster descreve as condições desse comércio. Embora ele tenha escrito sobre o tráfico no século XIX, suas observações merecem ser transcritas, pois não houve mudanças significativas nos hábitos dos negreiros: "Como a viagem da costa da África às costas da América do Sul é usualmente curta, pois os ventos estão sujeitos à pequena variação e o tempo é comumente bom, os navios empregados nesse tráfico são, de modo geral, pequenos e não de ótima construção... Os navios negreiros eram a princípio superlotados a um ponto incrível e não havia meios de evitá-lo. Fez-se, porém, uma lei com o fim de restringir o número de pessoas em cada navio. Sou levado a crer, que não se dá atenção a esse regulamento...”.
Depois de vários dias em porões infectos, onde morriam aos magotes, os negros sobreviventes (que às vezes não passavam da metade dos inicialmente embarcados) eram expostos na cidade.


Mercado de escravos. Debret, BMSP


“Os escravos são colocados nas ruas diante das portas dos proprietários”... deitados ou sentados em promiscuidade pelos caminhos, em número que atinge às vezes a duzentos ou trezentos. Os homens usam ao redor da cinta um pedaço de pano azul, puxado entre as pernas e preso nas costas. As mulheres recebem um pedaço maior de pano, que é usado como saia; e às vezes dão-lhes outro, com o fim de cobrir a parte superior do corpo... a vista dessa gente, Deus de bondade! é a coisa mais horrível do mundo. Eles, porém, não parecem sentir mais que o desconforto da situação. Seu alimento é carne salgada, farinha de mandioca, feijão e às vezes banana da terra. A comida de cada dia é cozida no meio da rua, em enormes caldeirões. À noite, os escravos são conduzidos a um ou mais armazéns e o condutor fica de pé, contando-os à medida que eles passam. São trancados; e a porta é aberta de novo ao romper do dia seguinte. O desejo dessas míseras criaturas, de escapar a este estado de inação e desconforto, manifesta-se quando aparece um comprador. De bom grado se levantam para serem colocados em fila, com o fim se serem examinadas e tratadas como gado... Nunca vi qualquer demonstração de pesar ao se separarem um dos outros; mas atribuo este fato a um sentimento de resignação, ou antes, de desesperança, que reprime toda mostra de pesar, que os prepara para o pior, tornando-se indiferentes ao que possa acontecer. Além disso, não é freqüente que uma família seja trazida junta: a separação de parentes e amigos se fez na África. É entre a parte mais jovem do grupo exposto à venda que o prazer pela mudança de situação é especialmente visível; os negros mais velhos fazem o que o condutor deseja, usualmente de modo impassível. Existe uma espécie de parentesco entre os indivíduos trazidos no mesmo navio. Chamam-se uns aos outros de malungos e este termo é muito considerado entre eles. “O comprador dá a cada um dos seus escravos recém-comprados um grande pano de baeta e um chapéu de palha e leva-os o mais depressa possível para a sua fazenda”.

Principais Áreas de Procedência dos Africanos

A questão da procedência dos africanos para o Brasil tornou-se bastante complexa, principalmente no tocante aos povos e etnias que forneceram os maiores contingentes de escravos. A complexidade decorre da mentalidade colonialista dos portugueses que, não considerando o negro um ser humano, pouca importância davam a assinalar de maneira precisa, nos seus registros e documentos, as diversas culturas, línguas e grupos étnicos dos africanos capturados. Ao contrário, estendiam a povos radicalmente distintos um mesmo nome, ou generalizações completamente sem fundamento.

Atualmente a antropologia tem revisto muito do que se escreveu sobre as origens culturais da massa escrava, no começo deste século, restando ainda muitos pontos a esclarecer.

Tradição historiográfica reúne, a grosso modo, os negros em dois grandes grupos étnicos: os bantos (ou bantus), da África equatorial e tropical, da região do golfo da Guiné, Congo e Angola, planaltos da África oriental e costa sul-oriental; e os sudaneses, predominantes na África ocidental, Sudão egípcio e na costa setentrional do golfo da Guiné. Não há nenhuma prova definitiva da predominância de um desses grupos na composição dos negros vindos para o Brasil, embora se afirme normalmente que a maioria era de bantos. Entretanto, as tradições culturais de alguns grupos sudaneses, como os iorubas da Nigéria, são amplamente predominantes nas heranças africanas da cultura brasileira.

Nina Rodrigues percebeu pela primeira vez a predominância sudanesa na Bahia, no que foi confirmado por Artur Ramos. Este destacou no grande grupo a predominância dos iorubas, também chamados nagôs (embora esse nome seja normalmente estendido a outras etnias) da Nigéria, dos gegés (ewes) do Daomé, dos minas da costa norte-guineana, além dos tapas, bornus e galinhas; identificou a presença importante dos hauçás do noroeste da Nigéria, de influência muçulmana, a qual marcou também os fulas (mais claros, de origem berbere-etiópica) e os malês (ou mandingas, de tradição guerreira, considerados altivos e perigosos pelos lusos, que lhes atribuíam feitiçarias). Entre os sudaneses originários da costa da Guiné, amplamente predominantes como vimos a presença comum da língua pertencente ao grupo lingüístico ioruba talvez explique a predominância dos elementos dessa cultura em nosso candomblé e nas influências negras de nossa linguagem.

Havia sudaneses em outros pontos do Brasil, mas talvez houvesse uma predominância banto no centro-sul e no norte. Artur Ramos indica como pontos iniciais de entrada das várias nações bantos os mercados de escravos de Pernambuco (extensivos a Alagoas), Rio de Janeiro (servindo a Minas e São Paulo) e Maranhão. Entre os povos desse grupo, os mais importantes no Brasil foram os cabindas do Congo, os banguelas de Angola, junto com muxcongos e rebolos, e os negros de Moçambique que Spix e Martius chamaram de macuas e angicos. A intensificação do tráfico de escravos para o Brasil no século XVIII, em função da mineração, multiplicou a presença de grupos originários da Costa da Mina e de Angola; no século XIX, até 1850, entrou também um número considerável de bantos da costa de Moçambique.

Do ponto de vista cultural, a influência dominante da cultura ioruba explica-se também pela sua predominância já na própria África, na região do golfo da Guiné, estendendo-se segundo Édison Carneiro até o interior do Sudão. Sua civilização mais adiantada surpreendeu os primeiros europeus, pelos trabalhos em bronze que faziam no reino do Benim. "A religião, a organização política e os costumes sociais de Ioruba davam o modelo a uma vasta zona. Os negros de Ioruba eram principalmente agricultores, mas os seus tecelões, os seus ferreiros, os seus artistas em cobre, ouro e madeira já gozavam de merecida reputação de excelência. Não havia abundância de animais de caça, mas a pesca, nos rios, nos lagos e no mar, rendia muito. Criavam-se animais de subsistência - cabras, carneiros, porcos, patos, galinhas e pombos. O cavalo era conhecido havia muitos séculos, devido ao contato com os árabes; o fundador do reino de Ioruba representava-se, nos mitos, montado num corcel." Vários dos deuses africanos cultuados no Brasil são procedentes de algumas de suas brilhantes cidades, como Oió. Os nomes de alguns de seus reinos, como Ala Kêtu e ljexá, continuam como designativos de ritos de candomblé.
Quanto aos bantos de Angola, tinham uma agricultura mais primitiva, praticada pelas mulheres, enquanto os homens criavam gado. Diferentemente dos iorubas e outros sudaneses, que usavam tecidos de pano, os negros das margens do Zambeze e das elevações de Benguela vestiam-se de cascas de árvores (como o fariam no quilombo de Palmares); mais para o sudoeste, porém, usavam vestimentas de couro, possuindo hábitos de caçadores e armas de ferro.

O grande povoador de nosso território

O certo é que o negro (quer escravo, quer livre) foi o grande povoador do nosso território, empregando o seu trabalho desde as charqueadas do Rio Grande do Sul aos ervais do Paraná, engenhos e plantações do Nordeste, pecuária na Paraíba, atividades extrativas na Região Amazônica e na mineração de Goiás e Minas Gerais. E não apenas povoou, mas criou pequenas comunidades rurais em todo o território nacional através de quilombos, fundando núcleos populacionais, muitos dos quais existem até hoje. Ocupou os espaços sociais e econômicos que através do seu trabalho, dinamizavam o Brasil. No entanto, esse fato não contribuiu em nada para que o negro consiga um mínimo dessa renda em proveito próprio. Pelo contrário. Toda essa produção é enviada para o exterior, e os senhores de escravos ficam com todo o lucro da exportação e comercialização.

Engenho de cana. Henry Koster, BMSP

Após 1530, quando se pode falar realmente em colonização, com engenhos montados em São Vicente, iremos encontrar um dinamismo crescente na produção colonial brasileira. No século XVI a nossa produção anual de 300.000 arrobas de açúcar, já era superior à América espanhola, o que daria uma renda per capita das mais altas do Brasil em todos os tempos. A grande população negra escrava não participava da divisão desta riqueza.
O mesmo acontece no período da mineração. Minas Gerais desponta e consegue o seu apogeu até o último quartel do século XVIII, como uma nova e florescente etapa da exploração colonial, a mais importante, segundo as autoridades de Portugal. O negro é deslocado para preencher os vazios demográficos dessa nova faixa de trabalho. Não leva apenas o seu trabalho, contudo, mas a sua cultura, ensinando técnicas de metalurgia e mineração, aperfeiçoando métodos de trabalho, extraindo o ouro, procurando diamantes para proporcionar a riqueza dos contratadores e da Coroa portuguesa.

Mineradores. Rugendas, BMSP


O negro escravo em Minas Gerais, por questões particulares, sofre as mais violentas formas de controle no trabalho, é vigiado diariamente. Quando fugia, tinha toda uma milícia de capitães-do-mato para persegui-lo. Mesmo assim conseguia extrair do subsolo mineiro toda a riqueza que foi enviada para Portugal e se destinava ao pagamento da dívida que a metrópole havia contraído com a Inglaterra.

Extração de diamantes. Carlos Julião, MP.


Serro Frio. Carlos Julião, MP.


Por outro lado, o decréscimo da população negra escrava depois de 1850, quando é extinto o tráfico, deve-se à sua grande mortalidade, pois, segundo cálculos confiáveis, a média de “vida útil” do escravo era de 7 a 10 anos. Mesmo assim, a sua influência povoadora em toda a extensão do Brasil se fez e se faz sentir, conforme demonstram todos os recenseamentos que foram feitos. O negro foi o grande povoador da nação brasileira durante a sua evolução social e histórica.
O Negro escravo
As descrições de testemunhas variam, mas a realidade na sua essência é uma só: o negro escravo vivia como se fosse um animal. Não tinha nenhum direito, e pelas Ordenações do Reino podia ser vendido, trocado, castigado, mutilado ou mesmo morto sem que ninguém ou nenhuma instituição pudesse intervir em seu favor. Era uma propriedade privada, propriedade como qualquer outro semovente, como o porco ou o cavalo.


Castigos domésticos. Rugendas, BMSP


A alimentação, por seu turno, não era a de fartura que alguns autores descrevem, quando afirmam que o negro era o elemento mais bem-alimentado do Brasil Colonial. Pelo contrário. Vilhena, descrevendo o tipo de alimentação do escravo e o comportamento dos seus senhores no particular, pinta uma situação de calamidade alimentar, pois alguns desses nem comida davam aos seus cativos. No final do século XVIII ele assim descreve a situação dos escravos no particular:
[...] dever-se-ia de justiça e caridade providenciar sobre o bárbaro e cruel e inaudito modo como a maior parte dos senhores tratam os desgraçados escravos de trabalho. Tais há que não lhes dando sustento algum lhes facultam somente trabalharem no domingo ou dia santo em um pedacinho de terra a que chamam “roça” para daquele trabalho tirarem seu sustento para toda a semana acudindo somente com alguma gota de mel, o mais grosseiro, se é tempo de moagem.
Ainda sobre o mesmo assunto, Ademar Vidal, baseado em uma testemunha da época, afirma que:
A comida era jogada ao chão. Seminus, os escravos dela se apoderavam num salto de gato, comida misturada com areia, engolindo tudo sem mastigar porque não havia tempo a esperar diante dos mais espertos e vorazes.


Feitores castigando negros. Jean-Baptiste Debret


A jornada de trabalho era de catorze a dezesseis horas sob a fiscalização do feitor, que não admitia pausa ou distração. Quando um escravo era considerado preguiçoso ou insubordinado, aí vinham os castigos. O feitor, ou um escravo por ele designado, era o executor da sentença. Conforme a falta, havia um tipo de punição e de tortura. Mas a imaginação dos senhores não tinha limites, e muitos criavam os seus métodos e instrumentos de tortura próprios.

Os dois instrumentos de suplício mais usados eram o tronco e o pelourinho, onde eram aplicadas as penas de açoite. O primeiro poderemos colocar como símbolo da justiça privada, e o segundo como símbolo da justiça pública. Mas, de qualquer forma, a disciplina de trabalho imposta ao escravo baseava-se na violência contra a sua pessoa.
Ao escravo fugido encontrado em quilombo mandava-se ferrar com um F na testa e em caso de reincidência cortavam-lhe uma orelha.

O justiçamento do escravo era na maioria das vezes feito na própria fazenda pelo seu senhor, havendo casos de negros enterrados vivos, jogados em caldeirões de água ou azeite fervendo, castrados, deformados, além dos castigos corriqueiros, como os aplicados com a palmatória, o açoite, o vira-mundo, os anjinhos (também aplicados pelo capitão-do-mato quando o escravo capturado negava-se a informar o nome do seu dono) e muitas outras formas de coagir o negligente ou rebelde.
Divisão do trabalho
Na divisão social do trabalho, noventa por cento ou mais dos escravos eram destinados às atividades da agroindústria açucareira, atividades nas minas ou fazendas de café. Os outros eram os chamados escravos domésticos.

Esses escravos, assim distribuídos na hora do trabalho, findam a faina cotidiana, eram recolhidos às senzalas, onde se amontoavam sem nenhuma condição de higiene ou conforto. Os escravos que não eram do eito e do engenho, da faiscação ou plantação de café, trabalhavam na casa do senhor como mucamas, cozinheiras, cocheiros, carregadores de liteiras, transportadores de tigres, limpadores de estrebarias, moleques de recado, doceiras, amas-de-leite, parteiras, carregadores de lenha e inúmeras outras ocupações que faziam funcionar a casa grande.

O negro escravo atuava em todos os níveis da divisão do trabalho, não apenas plantando e/ou colhendo cana, mas participando das técnicas e profissões exigidas para a prosperidade e o dinamismo dos engenhos. Um grande número de pessoas se beneficiava, direta ou indiretamente, desse trabalho, como todo um rosário de membros parasitários, indo dos funcionários fiscalizadores, padres, hóspedes e parentes até especialmente o senhor de escravos.


Retorno de um proprietário à sua chácara. Debret, BMSP.


O fausto dessa economia, que permitia aos senhores importarem seda e vinho da França e o seu comportamento de verdadeiros nababos, tinham como único suporte o trabalho da escravaria, que vivia sob as formas mais violentas de controle social, num clima de terrorismo permanente, ou se rebelava e fugia para as matas, organizando quilombos, onde reencontrava a sua condição humana.

A Quilombagem

Entendemos por quilombagem o movimento de rebeldia permanente organizado e dirigido pelos próprios escravos que se verificou durante o escravismo brasileiro em todo o território nacional. Movimento de mudança social provocado, ele foi uma força de desgaste significativa ao sistema escravista, solapou as suas bases em diversos níveis – econômico social e militar – e influiu poderosamente para que esse tipo de trabalho entrasse em crise e fosse substituído pelo trabalho livre.
A quilombagem é um movimento emancipacionista que antecede, em muito, o movimento liberal abolicionista; ela tem caráter mais radical, sem nenhum elemento de mediação entre o seu comportamento dinâmico e os interesses da classe senhorial. Somente a violência, por isso, poderá consolidá-la ou destruí-la. De um lado os escravos rebeldes; de outro os seus senhores e o aparelho de repressão a essa rebeldia.


O quilombo aparece, assim, como aquele módulo de resistência mais representativo (quer pela sua quantidade, quer pela sua continuidade histórica) que existiu. Estabelecia uma fronteira social, cultural e militar contra o sistema que oprimia o escravo, e se constituía numa unidade permanente e mais ou menos estável na proporção em que as forças repressivas agiam menos ou mais ativamente contra ele.
Dessa forma o quilombo é o centro organizacional da quilombagem, embora outros tipos de manifestações de rebeldia também apresentassem como as guerrilhas e diversas outras formas de protesto individuais ou coletivas. Entendemos, portanto, por quilombagem uma constelação de movimentos de protesto do escravo, tendo como centro organizacional o quilombo, do qual partiam ou para ele convergiam e se aliavam as demais formas de rebeldia. Incluímos, por esse motivo, no conceito geral de quilombagem outras manifestações de protesto racial e social, como por exemplo, as insurreições baianas do século XIX que culminam com a grande insurreição de 1835 em Salvador, que tanto pânico provocou entre as autoridades, forças militares e membros da população. Isto se explica não somente porque esses movimentos emancipacionistas escravos se inserem na mesma pauta de reivindicações dos quilombolas, mas também porque esses negros urbanos contavam como aliados os escravos refugiados nos diversos quilombos existentes na periferia de Salvador. Igualmente deverá ser incluído na quilombagem o bandoleirismo dos escravos fugidos, os quais em grupos ou isoladamente atacavam povoados e estradas. Desse bandoleirismo quilombola, os exemplos mais destacados são os de João Mulungu, em Sergipe, e Lucas da Feira, na Bahia, embora inúmeros outros tenham existido durante a escravidão em todo o território nacional. A quilombagem era, por isto, a manifestação mais importante, que expressava a contradição fundamental do regime escravista. Os senhores de escravos, por outro lado, não desdenhava a sua importância e se municiava de recursos (militares, políticos, jurídicos e terroristas) para combatê-la. O fenômeno da quilombagem tem como epicentro o quilombo, mas nele podem ser englobadas todas as manifestações de resistência da parte do escravo.
Por esses motivos é um movimento abrangente e radical. Nele se incluem não apenas negros fugitivos, mas também índios perseguidos, mulatos, curibocas, pessoas perseguidas pela polícia em geral, bandoleiros, devedores do fisco, fugitivos do serviço militar, mulheres sem profissão, brancos pobres e prostitutas. A quilombagem articula-se nacionalmente, desde os primórdios da escravidão, atravessa todo o sistema escravista, desarticulando-o constantemente, e assume, muitas vezes, aspecto ameaçador para a classe senhorial, como no caso da República de Palmares.


Principais quilombos brasileiros
Bahia

1. Quilombo do rio Vermelho
2. Quilombo do Urubu
3. Quilombo de Jacuípe
4. Quilombo de Jaguaribe
5. Quilombo de Maragogipe
6. Quilombo de Muritiba
7. Quilombos de Campos de Cachoeira
8. Quilombos de Orobó, Tupim e Andaraí
9. Quilombos de Xiquexique
10. Quilombo do Buraco do tatu
11. Quilombo de Cachoeira
12. Quilombo de Nossa Senhora dos Mares
13. Quilombo do Cabula
14. Quilombos de Jeremoabo
15. Quilombo do rio Salitre
16. Quilombo do rio Real
17. Quilombo de Inhambuque
18. Quilombos de Jacobina até o rio São Francisco.
Nota: Stuart B. Schwartz conseguiu listar 35 quilombos na região da Bahia entre os séculos XVII, XVIII e XIX.

Sergipe

1. Quilombo de Capela
2. Quilombo de Itabaiana
3. Quilombo de Divina Pastora
4. Quilombo de Itaporanga
5. Quilombo do Rosário
6. Quilombo do Engenho do Brejo
7. Quilombo de Laranjeiras
8. Quilombo de Vila nova
9. Quilombo de São Cristóvão
10. Quilombo de Maroim
11. Quilombo de Brejo Grande
12. Quilombo de Estância
13. Quilombo de Rosário
14. Quilombo de Santa Luíza
15. Quilombo de Socorro
16. Quilombo do rio Cotinguiba
17. Quilombo do rio Vaza Barris

Pernambuco

1. Quilombo do Ibura
2. Quilombo de Nazareth
3. Quilombo de Catucá (extensão do Cova da Onça)
4. Quilombo do Pau Picado
5. Quilombo do Malunguinho
6. Quilombo de Terra Dura
7. Quilombo do Japomim
8. Quilombos de Buenos Aires
9. Quilombo do Palmar
10. Quilombos de Olinda
11. Quilombo do subúrbio do engenho Camorim
12. Quilombo de Goiana
13. Quilombo de Iguaraçu

Maranhão

1. Quilombo da lagoa Amarela (Preto Cosme)
2. Quilombo do Turiaçu
3. Quilombo de Maracaçamé
4. Quilombo de São Benedito do Céu
5. Quilombo do Jaraquariquera

Paraíba

1. Quilombo do Cumbe
2. Quilombo da serra de Capuaba
3. Quilombo de Gramame (Paratuba)
4. Quilombo do Livramento

Rio Grande do Sul
1. Quilombo do negro Lúcio (ilha dos Marinheiros)
2. Quilombo do Arroio
3. Quilombo da serra dos Tapes
4. Quilombo de Manuel Padeiro
5. Quilombo do município de Rio Pardo
6. Quilombo na serra do Distrito do Couto
7. Quilombo no município de Montenegro (?)
Nota: a interrogação posta depois do quilombo do município de Montenegro significa que as fontes informativas não são conclusivas quanto à sua existência; o quilombo de Manuel Padeiro é chamado, em algumas fontes, de Manuel Pedreiro.

Santa Catarina

1. Quilombo da Alagoa (Lagoa)
2. Quilombo da Enseada do Brito
3. Outros quilombos menores “que devem ter dado muito trabalho”.

Minas Gerais

1. Quilombo do Ambrósio (Quilombo Grande)
2. Quilombo do Campo Grande
3. Quilombo do Bambuí
4. Quilombo do Andaial
5. Quilombo do Careca
6. Quilombo do Sapucaí
7. Quilombo do morro de Angola
8. Quilombo do Paraíba
9. Quilombo do Ibituruna
10. Quilombo do Cabaça
11. Quilombo de Luanda ou Lapa do Quilombo
12. Quilombo do Guinda
13. Lapa do Isidoro
14. Quilombo do Brumado
15. Quilombo do Caraça
16. Quilombo do Inficionado
17. Quilombos de Suçuí e Paraopeba
18. Quilombos da serra de São Bartolomeu
19. Quilombos de Marcela
20. Quilombos da serra de Marcília
Nota: Carlos Magno Guimarães conseguiu listar 116 quilombos em minas Gerais no século XVIII.

São Paulo

1. Quilombos dos Campos de Araraquara
2. Quilombo da cachoeira do Tambau
3. Quilombos à margem do rio Tietê, no caminho de Cuiabá
4. Quilombo das cabeceiras do rio Corumateí
5. Quilombo de Moji-Guaçu
6. Quilombos de Campinas
7. Quilombo de Atibaia
8. Quilombo de Santos
9. Quilombo da Aldeia Pinheiros
10. Quilombo de Jundiaí
11. Quilombo de Itapetininga
12. Quilombo da fazenda Monjolinhos (São Carlos)
13. Quilombo de Água Fria
14. Quilombo de Piracicaba
15. Quilombo de Apiaí (de José de Oliveira)
16. Quilombo do Sítio do Forte
17. Quilombo do Canguçu
18. Quilombo do termo de Parnaíba
19. Quilombo da freguesia de Nazaré
20. Quilombo de Sorocaba
21. Quilombo do Cururu
22. Quilombo do Pai Felipe
23. Quilombo do Jabaquara

Rio de Janeiro

1. Quilombo de Manuel Congo
2. Quilombos às margens do rio Paraíba
3. Quilombos na serra dos Órgãos
4. Quilombos da região de Inhaúma
5. Quilombos dos Campos de Goitacazes
6. Quilombo do Leblon
7. Quilombo do morro do desterro
8. Bastilhas de Campos (quilombos organizados pelos abolicionistas daquela cidade)

Região Amazônica

1. Amapá: Oiapoque e Calçoene
2. Amapá: Mazagão
3. Pará: Alenquer (rio Curuá)
4. Pará: Óbidos (rio Trombetas e Cuminá)
5. Pará: Caxiu e Cupim
6. Alcobaça (hoje Tucuruí), Cametá (rio Tocantins)
7. Pará: Mocajuba (litoral atlântico do Pará)
8. Pará: Gurupi (atual divisa entre o Pará e o Maranhão)
9. Maranhão: Turiaçu (rio Maracaçume)
10. Maranhão: Turiaçu (rio Turiaçu)
11. Pará: Anajás (lagoa Mocambo, ilha de Marajó)
12. Margem do baixo Tocantins: Quilombo de Felipa Maria Aranha

Mato Grosso

1. Quilombo nas vizinhanças do Guaporé
2. Quilombo da Carlota (denominado posteriormente Quilombo do Piolho)
3. Quilombos à margem do rio Piolho
4. Quilombo de Pindaituba
5. Quilombo do Motuca
6. Quilombo de Teresa do Quariterê

República de Palmares

Essa pequena listagem bem demonstra como a quilombagem era um fenômeno nacional.
A quilombagem – até hoje estudada com um elemento secundário, esporádico ou mesmo irrelevante durante a escravidão -, à medida que os cientistas sociais avançam nas suas pesquisas, demonstra ter sido um elemento dos mais importantes no desgaste permanente, quer social, econômico e militar, no processo de substituir-se o trabalho escravo pelo assalariado.

A Cultura

O negro não apenas povoou o Brasil e deu-lhe prosperidade econômica através do seu trabalho. Trouxe, também, as suas culturas que deram o ethos fundamental da cultura brasileira.

Negros Serradores de tábuas. Jean-Baptiste Debret

Vindos de várias partes da África, os negros escravos trouxeram as suas diversas matrizes culturais que aqui sobreviveram e serviram como patamares de resistência social ao regime que os oprimia e queria transformá-los apenas em máquina de trabalho.

Com a instalação de um governo despótico escravista, capaz de manter a ordem contra as manifestações da quilombagem, as suas diversas culturas foram consideradas primitivas, exóticas e somente consentidas enquanto estivessem sob o controle do aparelho dominador. Durante a escravidão o negro transformou não apenas a sua religião, mas todos os padrões das suas culturas em uma cultura de resistência social. Aquele que não pode atacar frontalmente procura formas simbólicas ou alternativas para oferecer resistência a essas forças mais poderosas. Dessa forma o sincretismo assim chamado não foi à incorporação do mundo religioso do negro à religião dominadora, mas, pelo contrário, uma forma sutil de camuflar internamente os seus deuses para preservá-los da imposição da religião católica. Não havendo como fugir à religião oficial, num tempo em que existia o monopólio do poder político e o monopólio do poder religioso, pela classe senhorial e a igreja Católica respectivamente. Daí o mecanismo de defesa sincrético dos negros.
A mesma coisa aconteceu com as suas línguas. Não possuindo unidade lingüística, os africanos foram obrigados a criar uma que fosse comum para que pudessem entender. Os povos banto que chegaram em primeiro lugar e aqueles que habitavam a parte sudanesa da África, posteriormente, incorporaram ao nosso léxico milhares de vocábulos na estrutura do português. No entanto, ninguém, ou quase ninguém, viu essa incorporação como um fator de enriquecimento, mas, criou-se a palavra chulo para designar esses vocábulos.
Após a escravidão, os grupos negros que se organizaram como específicos, na sociedade de capitalismo dependente que a substituiu, também aproveitaram os valores culturais afro-brasileiros como instrumentos de resistência.
Isto não quer dizer que se conservassem puros, pois sofrem a influência aculturativa (isto é, branqueadora) do aparelho ideológico dominante. É uma luta ideológico-cultural que se trava em todos os níveis, ainda diante dos nossos olhos. O exemplo das escolas de samba, especialmente no Rio de Janeiro – que perderam a sua especificidade de protesto simbólico espontâneo de antigamente para se institucionalizarem, assumindo proporções de um colossalismo quantitativo e competitivo antipopular e subordinando-se a instituições ou grupos financiadores que as despersonalizaram inteira ou parcialmente do seu papel inicial -, exemplifica o que estamos afirmando.

Participação Política

O negro, escravo ou livre, participou em quase todos os movimentos sócio-políticos que se desenrolaram no Brasil durante a sua trajetória social e histórica. Sem nos referirmos aos quilombos, que também consideramos movimentos políticos independentes, dos próprios escravos. Nas lutas pela expulsão dos holandeses, nas lutas pela Independência e a sua consolidação, na Revolução Farroupilha, nos movimentos radicais da plebe rebelde, como a Cabanagem, no Pará, no Movimento Cabano, em Alagoas, ele esteve presente. Também na Inconfidência Mineira, na Inconfidência Baiana, para lembrarmos mais alguns a sua presença é incontestável como elemento majoritário ou como participante menor. Após o fim da escravidão e do império, o negro se incorporará aos movimentos da plebe, como em Canudos, na comunidade do beato Lourenço, e, mais destacadamente, na revolta de João Cândido.

Alforria
Uma comparação entre duas datas permite perceber a quantidade razoável de negros e mulatos forros ao longo do século do ouro. Em 1735, estes subiam a 1.420, sobre um total de 96.541 escravos (segundo o Códice Costa Matoso), o que representava uma porcentagem de 1,4% aproximadamente. Em 1786, os forros já constituíam 35% da população de cor, embora predominassem entre eles os mulatos.

Negras forras vivendo de seus trabalhos. Debret, BMSP


A principal explicação para esta elevada taxa de libertos se encontra na possibilidade de o negro comprar sua alforria. Comumente os senhores das lavras permitiam a seus trabalhadores catar ouro nas horas livres, nas faisqueiras de baixo rendimento, também chamadas zonas de "ouro podre" ou "distritos de livre mineração". O produto era parcialmente usado para integrar a quota fixada como preço da liberdade. Em muitos outros casos, o negro escamoteava pepitas da jazida, escondendo-as no corpo, na roupa, no ânus ou nos cabelos, ou lavava o ouro em pó que eventualmente se colava na cabeleira, e acumulava o obtido por esse contrabando para depois adquirir a condição livre, ou pelo menos para comprar uma comida melhor que a farinha de milho, o toucinho e o feijão que lhe eram servidos. Reza a lenda que a igreja de Santa Ifigênia foi construída com o dinheiro da lavagem dos cabelos das negras na pia batismal. É importante lembrar que a fiscalização dos senhores e feitores era severa, o que deve ter coibido um bocado a prática acima. São conhecidas as terríveis humilhações sofridas pelos negros das lavras diamantíferas, obrigados a clisteres de pimenta malagueta pela suspeita de que engolissem alguma pedra. De qualquer maneira, as alforrias eram significativas para a sociedade das Gerais, e aumentaram quando as lavras mais importantes declinaram devido ao ônus que representaria alimentar muitos negros em jazida de baixa renda. Os homens de cor tornados libertos conseguiram em várias ocasiões uma ascensão social, como veremos mais adiante. Mas não se podem levar em excessiva conta figuras lendárias como Chico-Rei, ou brilhantes como Chica da Silva, para situar a posição do negro em Minas; não desaparecerem as mazelas da escravidão, nem as constantes injustiças: o funcionário José João Teixeira Coelho relatou em 1780 a atitude das autoridades judiciárias da capitania com relação aos escravos, falando, por exemplo, de um negro preso em Mariana, por simples suspeita de que fosse um fugitivo. .
Os capitães-do-mato muitas vezes apreendiam homens de cor, libertos ou não, e exigiam resgate por eles. As fugas constantes de escravos constituíam outro sintoma das dificuldades destes, a ponto de haver referência a elas como "um dos grandes problemas de Minas Gerais através do século XVIII". Existiram muitos quilombos, alguns deles com centenas e até milhares de moradores. As penalidades tornaram-se aos poucos mais cruéis, dada à freqüência da ocorrência; ordem da Coroa de 1741 mandava marcar os fugitivos recambiados com uma letra F impressa a fogo na espádua, o que logo se tornou um símbolo de coragem e distinção entre a escravaria.

Na reincidência, o escravo deveria ter uma orelha cortada, e a pouca eficácia destas medidas levou os camaristas de Mariana a propor em 1755 que a fuga fosse punida com o corte do tendão de Aquiles, para que o incurso ficasse impedido de correr, mas não de trabalhar, capengando. Certa lucidez dos funcionários da administração pombalina impediu a adoção da medida, bem como de outras, propostas por autoridades locais, visando a impedir a compra da liberdade por cativos que arranjassem dinheiro para tanto. Apesar de tudo isso, o número surpreendente de alforrias no setecentismo mineiro resta como saldo favorável à idéia de uma mobilidade social, inexistente nos quadros coloniais anteriores, e que teve força naquela formação social específica.
O café e a decadência da escravidão
Em 1850 é extinto o tráfico de escravos. O açúcar, mercadoria de exportação que dera prosperidade à área de trabalho escravo no Nordeste, entrara em decadência no mercado mundial. O mesmo fenômeno de decadência também se manifesta em Minas Gerais e Goiás, pois a avidez da metrópole exaurira em menos de dois séculos quase toda a riqueza do subsolo daquela área. A fuga permanente do escravo que exigia a manutenção de um aparelho repressivo e de captura permanente também onerava o custo da produção. Inicia-se, assim, a crise do sistema escravista. Por outro lado, na segunda metade do século XIX uma nova cultura aparece no Sudeste com um dinamismo que surpreende e, ao mesmo tempo, exige uma quantidade cada vez maior de mão-de-obra: o café. Não havendo mais a possibilidade de importação de africanos, os fazendeiros do café do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas no início do surto usam o recurso de importar o negro escravo de outras províncias que já se encontravam decadentes, como Pernambuco, Bahia e Ceará. Essa necessidade de importação interprovincial desarticula novamente a população negra, que é deslocada para as novas áreas prósperas, muitas vezes vendo fragmentada a sua família, pois os seus membros podiam ser vendidos para senhores diferentes. Esse novo deslocamento da população negra escrava estava, por isto, subordinado aos senhores. Escreve neste sentido Emília Viotti da Costa:

Foi o café o grande responsável pelo aumento do número de escravos e pela modificação das estatísticas. São Paulo passará com o Rio e Minas a deter, em 1887, 50% da população escrava do país. Os lavradores que avançavam pelo interior do vale fluminense e se fixavam nas terras paulistas e mineiras não encontravam outra solução para o problema da mão-de-obra.
Na economia cafeeira o escravo, já não era mais aquela mercadoria barata e facilmente substituível do Brasil-Colônia, mas, pelo contrário, devia ser protegido, pois a sua inutilização iria onerar o custo da produção. O imigrante, cuja presença se fará sentir, não tinha aptidão pra o tipo de trabalho como ele era praticado nas fazendas cafeeiras. Ademais, era muito caro que o escravo e, enquanto não se conseguia estruturar uma campanha imigrantista, o preço do negro escravo aumentava no mercado.
Nessa fase o escravo passa a ser protegido. O capital investido no negro devia ser protegido e surgem as primeiras leis protetoras. A Lei do Sexagenário, a do ventre-Livre, a extinção da pena de açoite, a proibição de se venderem para senhores diferentes membros da mesma família escrava e outras são mecanismos que protegem mais a propriedade do senhor do que a pessoa do negro escravo. A Lei do Sexagenário, por exemplo, serviu para descartar a população escrava não produtiva, que apenas existia como sucata e dava despesas aos seus senhores. A Lei do ventre-Livre condicionava praticamente o ingênuo a viver até os vinte anos numa escravidão disfarçada trabalhando para o senhor.
A crise do sistema escravista entrava em sua última fase. Do ponto de vista estritamente econômico, capitais de nações européias mais desenvolvidas no sistema capitalista investiam nos ramos fundamentais, como transportes, iluminação, portos e bancos, criando uma contradição que irá aguçando-se progressivamente entre o trabalho livre e o escravo. Tudo isto irá culminar com a Guerra do Paraguai, na qual os negros serão envolvidos na sua grande maioria compulsoriamente, nela morrendo cerca de 90 000. Aqueles que fugiam ao cativeiro, apresentando-se como voluntários, acreditando na promessa imperial de libertá-los após o conflito, foram muitos deles reescravizados.
Essa grande sucção de mão-de-obra negra, provocada pela Guerra do Paraguai, abriu espaços ainda maiores para que o imigrante fosse aproveitado como trabalhador. Essa tática de enviar negros à guerra serviu, de um lado, para branquear a população brasileira e, de outro, para justificar a política imigrantista que era patrocinada por parcelas significativas do capitalismo nativo e pelo governo de D. Pedro II. Nessa fase poderemos ver duas tendências demográficas da população negra, escrava e livre: decréscimo numérico em conseqüência da guerra e do envelhecimento e falecimento de grande parte dos seus membros; concentração dessa população nas províncias de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. Nas demais províncias vemos uma economia estagnada, com uma população negra incorporando-se aos tipos regionais de exploração camponesa, pois os senhores não tinham excedentes monetários para investir na dinamização dessa economia decadente. O negro é, assim, naquelas áreas, incorporado a uma economia de miséria.

A Abolição

O título de "Redentora", consagrado pelos áulicos da História oficialista à Princesa Isabel, não passa de mais uma falácia com que se costuma enganar nossos estudantes de História. A Abolição não proveio do bondoso coração da regente. Foi produto de uma luta violenta, sangrenta, cheia de heróis anônimos.
Foi produto também do desespero de uma monarquia decrépita, já desprovida de bases de apoio social, condenada, e que agiu como o afogado: agarrou-se a uma palha. Só que já era tarde demais.
Ao abolir a escravidão, estava o Império encostado à parede. "Que se vão os anéis e fiquem os dedos" parece ser sua linha de pensamento. Apenas, ao fazer isto, ignorava estar cometendo o suicídio político, pois perdeu o apoio do último setor social que ainda se interessava em prolongar sua agonia: os grandes latifundiários de café fluminenses e vale-paraibanos, escravistas até à medula. O Império não morreu em 15 de novembro de 1889. Morreu no dia 13 de maio de 1888, e seu atestado de óbito foi assinado pela Princesa Isabel. Dizia: "A partir desta data ficam libertos todos os escravos do Brasil. Revogam-se as disposições em contrário.”.

Abolição da escravidão. Angelo Agostini, IEBUSP.
Além dessas causas estruturais, fatores externos levam o sistema escravista a um impasse cuja solução foi a Abolição sem reformas. O dilema se apresentava diante dos fazendeiros: ou aceitavam a Abolição compromissada como o Trono queria, conservando-lhe os privilégios, ou correriam o risco de ver a Abolição feita pelos próprios escravos, através de medidas radicais, como a divisão das terras senhoriais. A concordata foi feita. O problema da mão-de-obra já estava praticamente resolvido com a importação de milhares de imigrantes. O trabalhador nacional descendente de africanos seria marginalizado e estigmatizado. O ideal de branqueamento das elites seria satisfeito, e as estruturas arcaicas de propriedade continuariam intocadas.
A Guarda Negra
O dia 14 de maio foi festivo para grande parte dos escravos que saíram das senzalas. Durante a euforia predominante, supuseram que haviam conquistado a liberdade e que os caminhos da cidadania estavam abertos para eles.
A princesa Isabel passou a ser, para a sua maioria, o símbolo da redenção do cativeiro. Os ex-escravos tinham como certa a sua equiparação aos demais cidadãos do Império. Houve uma parcela de negros que criou o isabelismo, pensamento que reivindicava a defesa da princesa regente por acreditarem que ela fosse a personalidade que os redimira da escravidão num ato de bondade pessoal.


José do Patrocínio foi o mais fervoroso adepto do isabelismo, e procurou aliciar libertos para defender a monarquia ameaçada pela onda republicana que crescera após a Abolição. Não satisfeito em beijar os pés da Redentora, José do Patrocínio inicia a arregimentação de ex-escravos, capoeiras e marginais de um modo geral, para fundar a Guarda Negra. Esse ajuntamento tinha como finalidade impedir a propaganda republicana, inclusive com a tarefa de dissolver comícios pela violência. Essa posição dos elementos aliciados por José do Patrocínio deu muito trabalho às autoridades e impediu, em muitos casos, que os adversários da monarquia se manifestassem. Os seus membros conseguiram dissolver muitos comícios republicanos através da violência.
Segundo registra a crônica da época, houve mesmo mortes em comícios republicanos pelas quais a Guarda Negra foi responsabilizada. Osvaldo Orico, biógrafo de José do Patrocínio, assim descreve a situação:
Incompreensível por um lado, mas explicável por outro, essa famigerada Guarda Negra tivera um inspirador. Não fora outro senão José do Patrocínio. O fanatismo abrira-lhe na alma a ilusão desse recurso com que imaginava cercar de garantias o prestígio da Redentora de sua raça. Foi a gratidão que o moveu a provocar e a sugerir um movimento de solidariedade dos libertos para com a padroeira inesquecível. E, ao toque de reunir, acorreu de todo lado os antigos sentenciados do cativeiro, ansiosos de oferecer com a força material do peito aberto a flor do seu reconhecimento heróico. Os acontecimentos registrados na capital e no interior, durante a fase em que se fez sentir a influência da Guarda Negra e se apelou para a sua incontida violência, mostraram como fora infeliz a idéia de arregimentar no antigo holocausto das senzalas a força que deveria guardar o Trono. Inaugurou-se uma época de terror que deu à nação enormes prejuízos em dinheiro e em vidas. Onde quer que brilhasse a centelha da luz republicana, surgia aí o conflito das raças, desencadeado pela fúria dos libertos em louvor à rainha. E amiudaram-se os atentados e morticínios. Na Rua do Passeio; em frente à Secretaria de justiça; em dias de março de 89, durante a agitação popular que a febre amarela e a falta de água provocaram, a Guarda Negra deixou indícios de sua lamentável influência.
Nas cidades de Campos e Lage do Murié, ainda segundo Osvaldo Orico, a Guarda Negra agiu com violência contra os republicanos:
Na primeira localidade em uma reunião republicana que se processava pacificamente, massa enorme de policiais e libertos abertos armados invadiu o edifício em que se realizava um banquete democrático, alarmou as senhoras, desrespeitou com ameaças a intervenção amistosa do pároco, que suplicava das janelas do templo ordem e clemência, disparou tiros, arremessou garrafas, espancou e feriu tudo isto para levantar entre acompanhamentos bélicos vivos e saudações à rainha. Na segunda, a polícia, após uma série de distúrbios, prendeu no tronco um honrado cidadão por suspeita de ideais republicanos.
A Guarda Negra era um movimento contraditório e confuso. Apoiava a monarquia porque os escravos conseguiram libertar-se do cativeiro através da magnanimidade da princesa Isabel. Via a Abolição como um ato de munificência social praticado pela regente, sem analisar as estratégias ocultas nessa medida e as conseqüências negativas que a Abolição traria, feita da forma inconclusa como o foi. Por outro lado, deixaram de pressionar os republicanos, especialmente os mais democratas, como Silva Jardim, no sentido de radicalizar o seu programa, exigindo reformas sociais e econômicas estruturais, como a distribuição da terra aos ex-escravos. Foi, portanto, um movimento conjuntural e reacionário, e o próprio José do Patrocínio, ao ver proclamada a República, foi um dos primeiros a aderir ao novo regime. Com isto, a Guarda Negra se desarticulou completamente logo depois da proclamação da República, vindo a desaparecer sem maiores conseqüências.
Nesse período de transição, os negros recém-saídos da escravidão passaram a se organizar de várias formas alternativas, especialmente em grupos de lazer, culturais ou esportivos. Por outro lado, levando-se em consideração a forma como a Abolição foi feita, descartando-os da participação naquelas reformas estruturais que as mudanças do momento estavam a exigir, as reminiscências do sistema escravista e da Redentora continuaram existindo como ideologia de apoio psicológico em diversos grupos negros de ex-escravos. Isto retardou ainda mais o processo, pois a Guarda Negra tinha uma ideologia de retrocesso, de volta ao passado e ao mesmo utópica (monarquia sem escravidão), quando devia exigir medidas de avanço social radicais.

A Imprensa Negra

A revolta dos marinheiros de João Cândido termina em 1911. Quatro anos depois tem início, em São Paulo, uma relevante manifestação de identidade étnica, das mais importantes pra conhecermos a trajetória do negro brasileiro na luta pela cidadania. Referimo-nos à chamada imprensa negra paulista, cujo primeiro jornal intitula-se O Menelick e começa a circular em 1915. Fenômeno dos mais significativos para se analisar o comportamento e a ideologia desse segmento negro urbano, os jornais editados por negros paulistas sucedem-se até 1963, quando é fechado o Correio d’Ébano.
Os negros paulistas, sentindo a necessidade de um movimento de identidade étnica, e enfrentando as barreiras de uma imprensa branca (Grande Imprensa) impermeável aos anseios e reivindicações da comunidade, recorreram à solução mais viável, que era fundar uma imprensa alternativa, na qual os seus desejos, as denúncias contra o racismo, bem como a sua vida associativa, cultural e social se refletissem.
Conforme dissemos, o primeiro desses órgãos foi O Menelick, que conseguiu grande prestígio na comunidade negra, difundindo aquilo que os seus redatores achavam mais interessantes para a vida social e cultural dos negros. Após o primeiro, outros se sucederam na seguinte ordem: A rua e O Xauter, 1916; O Alfinete, 1918; O Bandeirante, 1919; A Liberdade, 1919; A Sentinela, 1920; O Kosmos, 1922; O Getulino, 1923; O Clarim da Alvorada e Elite, 1924; Auriverde, O Patrocínio e O Progresso, 1928; Chibata, 1932; A Evolução e A Voz da Raça, 1933; O Clarim, O Estímulo, A Raça e Tribuna Negra, 1935; A Alvorada, 1936; Senzala, 1946; Mundo Novo, 1950; O Novo Horizonte, 1954; Notícias de Ébano, 1957; O Mutirão, 1958; Hífen e Niger, 1960; Nosso Jornal, 1961; e Correio d’Ébano, 1963.
Esse conjunto de periódicos que se sucede durante quase cinqüenta anos influirá significativamente na formação de uma ideologia étnica do negro paulista e irá influir, de certa maneira, no seu comportamento. Concentrando o seu noticiário nos acontecimentos da comunidade, divulgando a produção dos seus intelectuais nas páginas dessas publicações, aconselhando, orientando e criando, mesmo, um código moral puritana para ser obedecido pelos negros, essa imprensa “feita por negros para negros” marcou profundamente o pensamento do negro paulista.
Os seus sobreviventes, como José Correia Leite, Francisco Lucrécio e Aristides Barbosa ainda rememoram com nostalgia esse período. Esses jornais, mantidos pelos próprios grupos que os editavam e alguns membros da comunidade que se cotizavam para ajudá-los, constituíram um fato único no Brasil. A obstinação desses grupos negros em manterem um espaço ideológico e informativo independente, bem como a sua consciência étnica, determinou a sua continuidade, embora intermitente. Por outro lado, esses jornais também serviram de veículo organizacional dos negros. As discussões que se tratavam nas suas páginas, a colocação permanente dos problemas específicos da comunidade, as denúncias contra o racismo e a violência através de fatos concretos, tudo isso levou a que os negros de São Paulo fundassem o maior movimento político negro no Brasil: a Frente Negra Brasileira.
Esses jornais, conforme já dissemos, não refletiam nas suas páginas os grandes acontecimentos nacionais. Nada sabemos, pela sua leitura, da Coluna Prestes, da revolução de 1930, do movimento de 1932 em São Paulo, da revolta comunista de 1935 e de outros acontecimentos relevantes nesse período. Há, mesmo, uma certa cautela tática, pois neles também não se encontram notícias ou comentários sobre o movimento sindical, as lutas operárias, greves e a participação dos negros nesses eventos. Também não se encontram críticas ao governo. É uma imprensa altamente setorizada nas suas informações e dirigidas a um público altamente específico.
Os seus dois jornais mais importantes, O Clarim da Alvorada e A Voz da Raça, tiveram papel saliente e significativo no despertar da consciência étnica do negro paulista. O primeiro municiou a comunidade de dados e informações preciosos para que o negro se auto-identificasse na sua negritude. O segundo foi o órgão da Frente Negra Brasileira, movimento que marcou profundamente a consciência do negro, e elevou o nível de tomada de sua identidade étnica.

A frente Negra Brasileira

No bojo dessa movimentação ideológica da comunidade negra paulista, através dos seus jornais, surge a idéia da formação da Frente Negra Brasileira. Ela irá constituir-se em um movimento de caráter nacional, com repercussão internacional. Surgiu da obstinação de negros abnegados, como Francisco Lucrécio, Raul Joviano do Amaral, José Correia Leite (que, depois, dela se afastará por motivos ideológicos) e mais alguns.
Fundada em 16 de setembro de 1931, sua sede social central localizava-se na Rua Liberdade, na capital paulista. Sua estrutura organizacional já era bastante complexa, muito mais do que a quase inexistente dos jornais. Era dirigida por um Grande Conselho, constituído de 20 membros, selecionando-se, dentre eles, o Chefe e o Secretário. Havia, ainda, um Conselho Auxiliar, formado pelos Cabos Distritais da Capital.
Criou-se, ainda, uma milícia frente-negrina, organização paramilitar. Os seus componentes usavam camisas brancas e recebiam rígido tratamento, como se fossem soldados. Segundo um dos seus fundadores – Francisco Lucrécio -, a Frente Negra foi fundada ppor ele e outros companheiros embaixo de um poste de iluminação. Ainda segundo a mesma testemunha, no início houve muita incompreensão. Diziam que eles estavam fazendo racismo ao contrário. No entanto, com o tempo, os membros da Frente Negra foram adquirindo a confiança não apenas da comunidade, mas de toda a sociedade paulista. As próprias autoridades a respeitavam. Os seus membros possuíam uma carteira de identidade expedida pela entidade, com retratos de frente e perfil. Quando as autoridades policiais encontravam um negro com esse documento, respeitavam-no porque sabiam que na Frente Negra só entravam pessoas de bem. Ainda segundo depoimento de Francisco Lucrécio, conseguiam acabar com a discriminação racial que existia na então Força Pública de São Paulo. Até aquela data os negros não podiam entrar na corporação. A Frente Negra inscreveu mais de 400 negros, tendo muitos deles feito carreira militar. Por outro lado, havia divergências na comunidade negra em relação à ideologia da Frente, pois muitos não aceitavam a ideologia patrianovista (monarquista) que o seu primeiro presidente, Arlindo Veiga dos Santos, queria impor aos seus membros. Isso iria refletir na trajetória da entidade. Uma visão direitista levou muito dos seus adeptos a posições simpáticas em relação ao integralismo e ao nazismo.
Paradoxalmente, o conceito de raça é manipulado pelos frente-negrinos, que, no seu jornal A Voz da Raça, coloca como seu slogan “Deus, Pátria, Raça e Família”, que depois foi modificado. Era o slogan decalcado diretamente do “Deus, Pátria e Família”, da Ação Integralista. Apesar dessas contradições ideológicas, a Frente Negra se desenvolveu rapidamente, criando núcleos em vários Estados do Brasil. Milhares de negros, nas principais áreas do país, aderem ao seu ideário e passam a ser seus membros.
Em face dos êxitos alcançados, a Frente Negra resolveu transformar-se em partido político. Tinha todas as condições exigidas pela Justiça Eleitoral da época, e entrou com pedido nesse sentido em 1936. Sobre o assunto houve discussão entre os membros do Tribunal, que chegaram a alegar uma tendência racista na Frente. Finalmente o seu registro foi concedido. Durou pouco, porém. Logo em seguida, 1937, o golpe de Estado deflagrado por Getúlio Vargas implantando o Estado Novo dissolverá todos os partidos, entre eles a Frente Negra Brasileira.
Houve um trauma muito grande na comunidade que a acompanhava ou militava nos seus quadros. Milhares de negros sentiram-se desarvorados politicamente. Um dos seus fundadores, Raul Joviano do Amaral, tenta conservar a entidade, mudando-lhe o nome para União Negra Brasileira. Mas a situação geral do país não era favorável à vida associativa no Brasil, onde a repressão via atos subversivos em qualquer organização. O jornal A Voz da Raça deixa de circular. A censura é imposta a todos os órgãos de imprensa, e a União, que procurou substituir a Frente, morre melancolicamente, em 1938, exatamente quando se comemoravam 50 anos da Abolição.

Nova articulação

O interregno do Estado Novo inibiu a comunidade negra nacionalmente do ponto de vista organizacional e ideológico. Da mesma forma como as entidades populares e democráticas, sindicatos, associações culturais e outras ficaram sob a vigilância permanente dos órgãos de segurança e repressão, as organizações negras recuaram diante da situação. Passaram a se organizar como simples clubes de lazer, especialmente dançantes ou esportivos. Somente com a redemocratização, com a vitória dos Aliados e a derrota do nazismo, o negro começa a organizar-se outra vez de forma significativa. Assim, em 1945 foi fundado, no Rio de Janeiro, o Comitê Democrático Afro-Brasileiro, o qual tinha como objetivos principais:
• A convocação de uma Assembléia Constituinte;
• Anistia ampla e incondicional para os crimes políticos e conexos;
• Extinção do Tribunal de Segurança Nacional;
• Intensificação do esforço de guerra;
• Liberdade de palavra escrita e falada;
• Liberdade de agremiação;
• Direito de voto aos membros das Forças Armadas sem distinção de postos e direito a sua participação na Assembléia Constituinte;
• Direito de voto nos navios mercantes;
• Reconhecimento do direito de greve;
• Atamento de relações diplomáticas com a URSS;
• Autonomia sindical;
• Direito de sindicalização para o trabalhador das organizações autárquicas;
• Assistência ao trabalhador rural;
• Direito de sindicalização para as empregadas domésticas;
• Liberdade de culto às religiões afro-brasileiras;
• Ensino gratuito;
• Punição às empresas que fazem seleção racial e de cor;
• Abolição das seleções raciais e de cor na diplomacia;
• Abolição da seleção de cor nas escolas militares;
• Participação do negro nos assuntos de colonização e imigração;
• Democratização de todas as organizações negras, aproximando-as das organizações dos brancos;
• Fazer a aproximação das escolas de samba, clubes dançantes, associações religiosas, livrando-as da exploração política e comercial;
• E criar escolas de alfabetização em todo o território nacional.
O Comitê propunha, ainda, a realização de um Congresso Popular Brasileiro, colaborar com o Congresso de Artistas Plásticos e também, entre outras coisas, o início de uma campanha para a construção de um monumento a José do Patrocínio. Nessa mesma conjuntura de redemocratização surge, em 1944, o Teatro Experimental do Negro, no Rio de Janeiro, liderado por Abdias do Nascimento. Ensaiou e apresentou peças, dinamizou a consciência da negritude brasileira e editou um jornal, Quilombo, no qual o pensamento do grupo e a proposta do TEN se apresentavam à opinião pública.
O TEN teve de experimentar grandes dificuldades, quer financeiras, quer ideológicas, suspendendo as suas atividades no palco, mas sempre procurando levantar o problema do negro. Nesse sentido, o TEN organizou o Instituto Nacional do Negro e ao mesmo tempo procurou imprimir às suas atividades um conteúdo de elite cultural negra. Sob sua influência foi convocada a Conferência Nacional do Negro, em 1949. Por essa mesma época o poeta Solano Trindade, que vinha já de atividades anteriores como fundador, em 1936, de um Centro de Cultura Afro-Brasileira, antigo participante da Frente Negra Brasileira em Pernambuco e criador de um grupo de arte popular no Rio Grande do Sul, procuram fundar, no Rio de Janeiro, em 1945, o Teatro do Povo. Essa sua idéia não teve êxito em conseqüência de dificuldades financeiras e ideológicas que surgiram. Reúne-se a Haroldo Costa em 1948 para formarem o Teatro Folclórico Brasileiro, dele no entanto se afastando quando o empresário Askanasi transformou-o em uma empresa meramente comercial. Ainda no sentido de organizar o negro culturalmente, fundou juntamente com Edison Carneiro e Dirceu de Oliveira o Teatro Popular Brasileiro, composto de artífices, operários de fábricas, domésticas e pessoas de outras camadas populares. Com esse grupo viajou ao exterior, obtendo êxito em várias capitais européias. O Teatro Popular, no entanto, dispersou-se logo após o seu regresso. Solano Trindade, em São Paulo, tenta reorganizá-lo, continuando com exibições esporádicas até a sua morte.
Por outro lado, não devemos nos esquecer das organizações negras que se articularam durante muito tempo e continuamente, atravessando os períodos de crise aguda da sociedade brasileira. No interior de São Paulo, especialmente, essas entidades funcionaram sem solução de continuidade durante muitos anos e existem até hoje em número calculado em mais de cem. Temos como exemplos as que funcionam como clubes de lazer nas cidades de Campinas, Sorocaba, Piracicaba, São Carlos, Jundiaí, Araraquara, Catanduva e em outras cidades, muitas delas fundadas há mais de trinta há até cinqüenta anos.
Renascimento
Após 1954 há um renascimento do negro, na capital de São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras capitais, que possibilita a se organizarem em entidades significativas. Em dezembro de 1954, em São Paulo, foi organizada a Associação Cultural do Negro na Rua São Bento. O seu presidente era Geraldo Campos de Oliveira; vice-presidente, Américo Orlando da Costa. Sua direção era composta de uma Diretoria Executiva, com oito membros, e um Conselho Superior, presidido por José Correia Leite (um veterano líder, fundador do Clarim da Alvorada), e tendo como secretário Américo Santos. O seu Conselho compunha-se de 29 membros. A ACN possuía departamentos de Cultura, Esporte, Estudantil, Feminino, e uma Comissão de Recreação. Geraldo Campos de Oliveira dinamizou as atividades da associação e editou um Caderno de Cultura Negra. Em 1958 a entidade centrou as suas atividades no registro dos 70 anos da Abolição. A ela juntaram-se, para realizar esses atos, o Teatro Experimental do Negro (de São Paulo); o Teatro Popular Brasileiro, de Solano Trindade; a Associação Paulista dos Amigos do homem do Norte e do Nordeste; o Grêmio Estudantil Castro Alves; a Sociedade Recreativa José do Patrocínio de São Miguel; e o Fidalgo Club.
Discutiu-se, na época, qual deveria ser a ideologia que o negro devia adotar para a sua libertação étnica, desdobrando-se esse debate em diversos níveis, que iam do cultural ao político. Esse aspecto de polêmica ideológica vai desaparecendo especialmente a partir do golpe militar de 1964.
A ACN, depois de algum tempo inativa, muda-se, em 13 de maio de 1977, para o bairro da Casa Verde, com objetivos mais assistenciais e filantrópicos do que de reivindicações ideológicas. Criou uma escola, com cursos de alfabetização e madureza que funcionavam gratuitamente. Apesar de tudo isto, a Associação Cultural do Negro não tem mais o seu ethos inicial, tendo de fechar as suas portas.
Devemos salientar, também, o funcionamento das escolas de samba que serviam e servem de veículos de organização cultural do negro, centenas de pequenos clubes, recreativos ou com outras finalidades, espalhados em todo o território nacional, além de terreiros de Candomblé, Xangô, Macumba e Umbanda, que servem também para agrupar o negro brasileiro. Uma verdadeira teia nacional desses grupos mantém o negro unido e cria condições para a preservação da sua memória afro-brasileira.
Por outro lado, a situação do Brasil durante o golpe militar que foi instaurado no país impossibilitou qualquer diálogo democrático entre esses grupos negros e as autoridades autoritárias que sempre os viram com desconfiança acreditando serem pontos de subversão.
Em conseqüência da saída dos militares do poder, fundam-se organizações mais estruturadas, que retomam a tradição de uma posição de luta étnica e cultural. Essas organizações articulam-se e promovem uma série de atividades culturais, sociais e recreativas, tomando, de vez em quando, posições abertas contra o preconceito racial. A unificação dessas organizações deu-se, finalmente, a partir do dia 18 de junho de 1978, quando da realização de um ato público de protesto nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. Os fatos que determinaram a sua convocação foram a morte do trabalhador negro Róbson Silveira da Luz, no mês de maio, devido a torturas em uma delegacia de guaianases, na capital de São Paulo; a expulsão, no mês de maio, de quatro atletas juvenis negros do Clube de Regatas Tietê; e, finalmente, o assassinato por um policial, no bairro paulistano da Lapa, de Nilton Lourenço, operário negro. Durante esse ato foi criado o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, depois abreviado para Movimento Negro Unificado. A partir daí várias outras organizações de militantes surgiram no Brasil inteiro e atualmente reivindicam o fim do racismo e da exploração econômica, social e cultural do negro. Mas esta é uma história que ainda está sendo vivida, para depois ser contada.